6
Passagem
O menino cria caso com a existência e resolve nascer.
O menino chora assim que a luz o atinge a pele.
E apela para o berro e o abraço.
E nem sabia que aquele berro seria pra sempre.
O menino cresce um pouco e mais um pouco quer.
O menino acha que tudo passa bem além da conta.
E apela para o sorriso e o abraço.
E nem sabia que aquele sorriso seria pra sempre.
O menino então dança na corda da vida e brinca.
O menino acredita estar com todos, junto estaria.
E apela para a fala e o abraço.
E nem sabia que aquela fala seria pra sempre.
O menino inventa seu mundo pros pais o notarem.
O menino aprende e espalha sua dúvidas inocentes.
E apela para o ouvido e o abraço.
E nem sabia que aqueles sons seriam pra sempre
O menino se junta às loucuras e descobre a dos outros.
O menino entende que todos estão loucos e sorri.
E apela para a astúcia e o abraço.
E nem sabia que aquela habilidade seria pra sempre.
O menino cresce ainda mais e se depara com a idade.
O menino então ri de si mesmo e obedece o Tempo.
E apela para o berro, novamente, como há tempos,
Não pararia de crescer?
E por suar os anos inteiros parou de sorrir...
O jovem despertou e quis voltar para os sonhos.
O jovem dormia e percebia que a tempos vivia,
E apela para a rebeldia e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquela revolta seria pra sempre.
O jovem falava de si mesmo como um Cowboy.
O jovem nem mesmo gostava de vacas,
E apela para a mentira e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquela inverdade seria para sempre.
O jovem vê o Amor e o Ódio duelarem pelas almas
O jovem quer ser, mesmo sem saber o quê, pra esquecer,
E apela para a ideologia e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquela idéia seria para sempre.
O jovem chora todo dia por lembrar-se de sonhar só à noite.
O jovem quer mesmo ser mais homem, é verdade,
E apela para o sonho e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquele sonho seria pra sempre.
O jovem fazia tudo pra agradar e desagradava mesmo assim
O jovem nem cogitava mudar de partido pelo seu bem,
E apelava para o discurso e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquelas palavras seriam pra sempre.
O jovem se lembrava da morte em vida.
O jovem mesmo assim não acreditava ou queria,
E apelava para a tristeza e o embaraço.
E nem mesmo sabia que aquela tristeza seria pra sempre.
O jovem então pára de chorar e morre para o homem.
O jovem então está maduro e cai da árvore do mundo para o chão.
E apela para o berro, novamente, como há tempos,
Não pararia de crescer?
E por parar de sorrir começou a caminhar além da mata...
O homem então balança a cabeça como num despertar.
O homem fala de si mesmo para os animais a gargalhar.
E apela para o desdém e o medo.
E nem queria saber que aquele relaxo seria pra sempre.
O homem esconde seu amor e ódio no coração.
O homem rasteja entre os becos como um bicho do mato.
E apela para a covardia e o medo.
E nem queria saber que aquela desonra seria pra sempre.
O homem não se perdoa e por isso se maltrata.
O homem não assume suas saudades infantis.
E apela para o segredo e o medo.
E nem queria saber que aquele mistério seria pra sempre.
O homem planta e escreve sobre seus desastres.
O homem viaja e reflete a sujeira de sua mente.
E apela para o dinheiro e o medo.
E nem queria saber que aquele relativo valor seria pra sempre.
O homem se multiplica em miúdos e se une.
O homem espalha sua semente e mente para valorizar.
E apela para a graça e o medo.
E nem queria saber que aquela farsa seria para sempre.
O homem então pensa de verdade e reage.
O homem vai com suas penas pelo céu de tempestades.
E apela para a magia e o medo.
E nem queria saber, aquele encanto seria pra sempre.
O homem descobre estar doente como sua casa.
O homem descobre que tudo está adoecendo por causa dele.
E apela para a filantropia e o medo.
E nem queria saber que aquela bondade seria pra sempre.
O homem então se percebe melhor em fim.
O homem alcança realmente o homem que esperava ser.
E apela para o berro, novamente, como há tempos,
Não pararia de crescer?
E caminhando além da mata do desconhecido passou a conhecer...
O velho então sorriu pra todos e disse atrapalhado:
“O velho está morrendo desde que nasceu meu caro!”
E apela para a chacota e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela gozação, seria pra sempre.
O velho canta com os pássaros e brinca com os cães.
O velho inveja os gatos e gosta dos porcos.
E apela para o contato e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela curiosidade, seria pra sempre.
O velho volta a dormir para aliviar os músculos e sonha.
O velho cria outros mundos como criança e gosta.
E apela para a senilidade e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela loucura, seria pra sempre.
O velho jura para todos que viveu bem apesar dos pesares.
O velho se livra do Amor e do Ódio e atua pra tudo.
E apela para a particularidade e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela distinção, seria pra sempre.
O velho vive tudo de novo, e tudo de novo pensa.
O velho volta pra floresta da ignorância diante das novidades.
E apela para a experiência e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela lenda, seria pra sempre.
O velho chega junto, mas ausente de idéias foge.
O velho não se entende mais e surta com as improbabilidades.
E apela para a calma e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela serenidade, seria pra sempre.
O velho inverte seus princípios e torna a dormir intensamente.
O velho já não quer acordar porque nada mais entende...
E apela para a veracidade e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquele veredicto, seria para sempre.
O velho já começa desconfiar de alguma coisa e resolve não acordar.
O velho já era criança outra vez e queria pra terra voltar.
E apela para a epifania e a sabedoria.
E nem mesmo desconfiava que, aquela sensação, seria pra sempre.
O velho então entende que de repente agente entende.
O velho se mete em nada por nada ter sido quando gente.
E apela para o berro, novamente, como há tempos,
Não pararia de crescer?
E passou a conhecer o que estava a ser antes e depois da passagem.
7
Cantiga de Amor - Lívia
“Moro em peito, Lívia”
Dor latente sentinela
Onde sempre nela espera
Fim d’angústia toda via?
“Moro em peito, Lívia”
Dor amarga solitária
Onde vaia tal enfada
Fim da calma que vivia?
“Moro em peito, Lívia”
Dor carente de abraço
Onde cabe meu afago
Onde finda nostalgia?
“Moro em peito, Lívia”
Dor que logo vai, em beijo
Onde durmo de desejo
Fim das aspas da cantiga!
Suzo Bianco
Obs.: Graças ao fracaço do editor de postagens deste blog, alguns poemas podem apresentar erros de fonte e estrofe.
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